IEPS - INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA EM SAÚDE

Alimentação e Câncer

Nos dias atuais, o câncer virou uma verdadeira epidemia. Não obstante o incremento da tecnologia, milhares de pessoas em todo o mundo morrem diariamente. Tamanho é o pavor que desperta, que alguns nem o mencionam, preferindo-a chamá-lo “aquela doença”. Em busca da sua origem, pesquisadores de todo o mundo tem se aliado em pesquisas. Na última década, repetidos trabalhos apontam para a relevante participação da alimentação moderna como elemento importante na geração das mais variadas formas de câncer. São vários os tipos de alimentos que podem contribuir com a geração de tumores. Entre eles destacam-se: gorduras, carnes, aditivos químicos, álcool, defumados, açúcar. Vejamos algumas pesquisas a respeito.

Gordura

A idéia de que a gordura dietética pode ser carcinogênica, em humanos, é totalmente plausível. Vários experimentos têm demonstrado os efeitos da gordura na carcinogênese. Estudos recentes, em modelos experimentais, confirmam que há um efeito independente da gordura sobre e a geração do câncer. Estudos em roedores confirmou que a diminuição da gordura dietética diminui a incidência da indução de tumores de mama e de cólon; inversamente, um aumento na gordura dietética demonstrou ter efeito promocional no câncer. Acredita-se que o surgimento de câncer a partir da ingestão de gorduras, se deva a composição dos lipídeos na membrana celular, que é determinada em parte, pela distribuição dos ácidos graxos na dieta. A alteração na composição desta membrana afeta a sua permeabilidade, que como sabemos controla os movimentos de entrada e saída de gordura e outras substâncias nos tecidos. Outros efeitos da gordura sobre a carcinogênese se referem a sua influência sobre o sistema imune( sistema de defesa) e síntese de prostaglandinas, que podem afetar o crescimento tumoral. Age também indiretamente sobre a carcinogênese, por meio da sua contribuição para a obesidade, e esta própria estabelecer um fator de risco para certos tipos de câncer, notadamente do endométrio, rim, mama e cólon.

KolonelLN. Fat ande câncer. The epidemiologic evidence in perspective.Adv Exp Méd Biol 1997; 422:1-
Heber D. Interrelations of high fat diets, obesity, hormones, and cancer. Adv Exp Med Biol 1996;399:13-

As evidências epidemiológicas dos diferentes países tem sugerido que existe associação positiva entre a disponibilidade de gordura na dieta e a variação nas taxas de mortalidade por câncer de mama.

Stamler J. Assessing diets to improvede worlde Health: nutritional research on disease causation in populations. Am J Clin Nutr 1994;59 (suppl):146S-46S 
Gray GE, Pike MC, Henderson BE. Breast-Cancer incidence and mortality ratesin different countries in relation to Known risk factors and dietary practices. Br J Cancer 1979;39(1):1-7.

É muito provável que as mudanças na dieta, incluindo aumento na ingestão de gordura e calorias, e o crescimento na prevalência da obesidade sejam as causas do aumento da mortalidade por câncer de mama.

Stampfer MJ, Willett WC, Colditz GA, et al. Intake of cholesterol, fish and specific types of fat in relation to risk of breast cancer. In: Lands WEN, ed. Proceedings of the AOCS Short Cours on Polynsatured Fatty Acids and Eicosanoids. Champaign: American Oil Chemists Society; 1987.p. 248-52

A habilidade da gordura dietética em aumentar a carcinogênese mamária tem sido exaustivamente pesquisada. Silverstone e Tannenbaun demonstraram em vários estudos que a gordura dietética provoca tanto a indução química como o desenvolvimento espontâneo do tumor de mama em ratas.

Woutersen RA, Apeel MJ, Van Garderen-Hoetmer A. et al. Dietary fat and carcinogenesis. Mutat Res. 1999; 443(1.2):111-27
KolonelLN. Fat ande câncer. The epidemiologic evidence in perspective. Adv Exp Méd Biol 1997; 422:1-19

É possível mais não esta ainda comprovado que o aumento da gordura corpórea, o ganho de peso e a obesidade pós-menopausal, resultem na maior produção de insulina e estrógeno e, subsequentemente, em alto risco de câncer de mama. O papel do fator de crescimento tumoral semelhante a insulina, ou Insulin-like Growth Factor (IGF) no câncer de mama em sido considerado de interesse, uma vez que os receptores de IGF-1 tem sido encontrados nos tecidos da mama e estimulam o crescimento de várias células cancerosas. Alguns estudos tem demonstrado que a diminuição da quantidade de gordura na dieta reduz os níveis de estradiol, sulfato de estrona e metabólitos. A dieta de alto teor de fibras foi correlacionado com o aumento da excreção do estrógeno nas fezes, resultando em diminuição dos níveis de estrógenos e redução do risco de câncer de mama.

Prentice R, Trompson D, Clifford C, et al. dietary fat reduction and plasma estradiol concentration in healthy posmenopausal women. TheWomen`s Health Trial Study Group. J Natl Cancer Inst 1990;82(2):129-34 
Kuller LH. The etiology of breast cancer- from epidemiology to prevention. Public Health Rev 1995;23(2):157-213

As taxas de mortalidade nos diferentes países para o câncer próstata são altamente correlacionadas com a estimativa do consumo total de gordura per capita, mas essa relação é completamente ausente quando somente gordura derivada de vegetais são encontradas na alimentação.

Rose DP, Conolly JM. Dietary fat, fatty acids and prostate cancer. Lipids 1992;27(10):798-803

Existe uma grande possibilidade de que as aminas heterocíclicas, produzidas quando as carnes são preparadas em altas temperaturas , como ocorre durante a ação de grelhar, do churrasco e da fritura, estejam envolvidas na gênese do câncer de próstata.

Zhang S, Hunter DJ, Rosner BA, et al, Dietary fat and protein in relation to risk of non-Hodgkin`s lymphoma among women. JNatl Cancer inst 1999;91(20):1751-8

Bosland, Key e, recentemente, Clinton e Giovannucci entraram em consenso a respeito dos fatores que infuenciam o risco para o câncer de próstata, e concluíram que a carne vermelha, os laticíneos, a gordura animal aumentam o risco para este tipo de câncer em aproximadamente duas vezes, quando comparados com dietas com baixo teor destes produtos alimentíceos.

Bosland MC. Diet and câncer of the prostate: epidemilogic and experimental evidence: In: Reddy BS, Cohen LA, eds. Diet, Nutrition, and cancer a Critical Evaluation, Macronutients and Cancer. Florida:CRC press. 1986.p.125-49.

Associação Entre a Ingestão de Proteína e Câncer

Trabalhos recentes tem demonstrado que dietas com altos teor de carne vermelha geradora de metabólitos provenientes do metabolismo da proteína colônica, alto teor de gordura, bem como o baixo teor de fibras, aumentam a genotoxidade das fezes.

Hughes R, Magee EA, Bingham S. Protein degradation in large intestine: relance to colorectal câncer. Curr Issues Intes Microbiol 2000;1(2):51-8

Zhang et al., demonstraram que o linfoma não Hodgkin ocorre mais frequentemente em mulheres que consomem grande quantidade de carne vermelha, carne suína ou carne de cordeiro. A formação de aminas heterocíclicas aumenta com a temperatura e com o tempo de cocção. Carnes mal passadas ou ao ponto tem concentração inferior de substâncias mutagênicas do que as carnes bem passadas.

Os pesquisadores postulam que a ingestão de carne vermelha, suína ou cordeiro, como pratos principais está associada estatisticamente, ao aumento do risco do linfoma não-Hodgkin; o risco passa a ser relativo se o consumo destas ocorrer pelo menos uma vez por dia, quando comparado com menos de uma vez por semana.

Zhang S, Hunter DJ, Rosner BA, et al, Dietary fat and protein in relation to risk of non-Hodgkin`s lymphoma among women. J Natl Cancer inst 1999;91(20):1751-8

As pesquisas que correlacionam o câncer de cólon e ingestão de carne vermelha apontam como uma das possíveis razões para tal ocorrência o fato de que este tipo de carne não ser bem digerida como outras proteínas, ocasionando uma maior quantidade disponível de proteína no intestino grosso, que passa a ser metabolizada pelas bactérias colônicas, aumentando o potencial carcinogênico.

Silvester KR, cummings JH. Does digestibilility of meat protein help explain large bowel cancer risk? Nutr Cancer 1995;24(3):279-88

About Dr. Dirceu de Lavôr Sales

Dr. Dirceu de Lavôr Sales, médico especializado em Clínica Médica, Acupuntura, Homeopatia, tratamento da Dor e presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa em Saúde