IEPS - INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA EM SAÚDE

Jejum intermitente melhora a qualidade de vida

  • Dr. Dirceu de Lavôr Sales
  • 28 de junho de 2020

Uma discussão tem tomado vulto, nos últimos anos, referente à melhor forma de realizar essa restrição. Ao que tudo indica, o simples ato de restringir o consumo de alimentos já traz evidentes benefícios. No entanto, alguns estudos controlados têm indicado que talvez uma das formas mais eficientes de realizar essa restrição seja através de jejuns intermitentes. Possivelmente, a primeira evidência de que as várias formas de jejuns intermitentes podiam conferir benefícios à saúde veio de estudos mostrando que ratos jovens, mantidos sob esse tipo de dieta, viveram quase duas vezes mais que ratos que mantinham uma dieta livre. Quando a dieta era iniciada na meia-idade, os ratos viviam 30-40% mais que aqueles alimentados com a dieta livre. E mais: essa extensão de vida poderia ser aumentada por meio da prática de exercício regular. Observou-se, também, maior preservação das funções cognitiva e sensório-motora durante o período de envelhecimento dos roedores. 

Singh R, Manchanda S, Kaur T, Kumar S, Lakhanpal D, Lakhman SS, et al.  Middle age onset short-term intermittent fasting dietary restriction prevents brain function impairments in male Wistar rats. Biogerontology.2015;16(6):775-88.

174-Wan R, Camandola S, Mattson MP. Intermittent food deprivation improves cardiovascular and neuroendocrine responses to stress in rats. J Nutr.2003;133(6):1921-9.

178-Cheng A, Yang Y, Zhou Y, Maharana C, Lu D, Peng W, et al. Mitochondrial SIRT3 mediates adaptive responses of neurons to exercise and metabolic and excitatory challenges. Cell Metab. 2016; 23(1):128-42.

Pesquisas com animais de laboratório têm buscado elucidar os mecanismos celulares e moleculares pelos quais os indivíduos respondem positivamente a essa forma de alimentação, já que ela tem demonstrado ser de grande benefício na prevenção de uma ampla gama de doenças. Estudo controlado aleatório recente, em humanos, demonstrou a possibilidade de que essa forma de alimentação pode melhorar muitos indicadores de saúde em indivíduos saudáveis, ​​bem como em pessoas com algumas doenças crônicas. Em animais de laboratório, as várias formas de jejuns intermitentes têm demonstrado efeitos benéficos profundos em vários índices diferentes de saúde. E, o mais importante, está ficando claro que eles podem mudar a história natural de um bom número de doenças relacionadas à idade, incluindo diabetes, doenças cardiovasculares, cânceres e distúrbios neurológicos, como doença de Alzheimer, doença de Parkinson e acidente vascular cerebral.

Longo VD, Mattson MP. Fasting: molecular mechanisms and clinical applications. Cell Metab.2014;19(2):181-92.

Indicadores importantes apontam que esse tipo de alimentação resulta em expressivas mudanças metabólicas: manutenção de níveis baixos de glicose no sangue, depleção ou redução de reservas de glicogênio, mobilização de gordura, redução da leptina circulante e, muitas vezes, elevação dos níveis de adiponectina. Observou-se, ainda, mudanças comportamentais durante o período de jejum, que incluem aumento do estado de alerta/excitação e da acuidade mental.

Johnson JB, Summer W, Cutler RG, Martin B, Hyun DH, Dixit VD, et al. Alternate day calorie restriction improves clinical findingsand reduces markers of oxidative stress and inflammation in overweightadults with moderate asthma. Free Radic Biol Med.2007;42(5): 665-74.

Wan R, Ahmet I, Brown M, Cheng A, Kamimura N, Talan M, et al. Cardioprotective effect of intermittent fasting is associated with anelevation of adiponectin levels in rats. J Nutr Biochem.2010;21(5):413-7.

Recentemente, importante meta-análise: Impact of intermittent fasting on health and disease processes (2017), buscou avaliar detalhadamente o impacto de variados tipos de jejuns em animais e humanos. Em relação às disfunções cardíacas, por exemplo, foi observado que o efeito obtido tinha muita semelhança com a resposta ao treinamento por exercícios aeróbicos. Os pesquisadores detectaram que, uma semana após o início da nova dieta, a frequência cardíaca em repouso e a pressão arterial foram significativamente reduzidas e continuaram a diminuir por até duas semanas, permanecendo reduzidas enquanto foi mantida a dieta

Mattson MP, Longo VD, Harvie M. Impact of intermittent fasting on health and disease processes. Ageing Res Rev.2017;39:46-58. 

Outros trabalhos confirmaram que 1 a 2 semanas após o retorno a uma dieta livre, a frequência cardíaca retornou aos níveis de antes de iniciar a dieta. Possivelmente, a redução da frequência cardíaca em resposta a esse tipo de alimentação foi devida ao aumento da atividade dos neurônios colinérgicos cardiovagais do tronco encefálico). Atividade física e jejuns intermitentes podem aumentar a sinalização do BDNF (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro) que, através de mecanismos neuroplásticos, aprimora a atividade dos neurônios cardiovagais do tronco encefálico, reduzindo a frequência cardíaca e a pressão arterial. Portanto, os dados indicam que jejuns intermitentes podem ter um impacto na saúde geral e na longevidade, através de mecanismos envolvendo a biogênese mitocondrial dos neurônios hipocampais e de outras regiões do cérebro,  em processo mediado pelo BDNF, pelo PGC-1 (um regulador-mestre de genes envolvidos na biogênese mitocondrial) e pela sirtulina 3 (SIRT3), uma proteína mitocondrial envolvida no estresse oxidativo e na apoptose.

Mager DE, Wan R, Brown M, Cheng A, Wareski P, Abernethy DR, et al. Caloric restriction and intermittent fasting alter spectral measures of heart rate and blood pressure variability in rats. FASEB J.2006;20(6):631-7.

Wan R, Weigand LA, Bateman R, Griffioen K, Mendelowitz D, Mattson MP. Evidence that BDNF regulates heart rate by a mechanism involving increased brainstem parasympathetic neuron excitability. J Neurochem.2014;129(4):573-80.

Cheng A, Wan R, Yang JL, Kamimura N, Son TG, Ouyang X, et al. Involvement of PGC-1(in the formation and maintenanceof neuronal dendritic spines. Nat Commun.2012; 3: 1250.

About Dr. Dirceu de Lavôr Sales

Dr. Dirceu de Lavôr Sales, médico especializado em Clínica Médica, Acupuntura, Homeopatia, tratamento da Dor e presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa em Saúde